segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Colombina às Avessas

Dizem que existe uma cidade perdida, escondida pelas catacumbas de Paris, nessa cidade secreta nada é o que parece ser e quase tudo é bonito de se ver. Se essa história se passasse na França, talvez ela fizesse algum sentido e ficasse um pouco mais parecida com o que realmente aconteceu; Mas no fim das contas sentido não é o que realmente importa. Desde que a alegoria seja entendida, o trabalho não é de todo perdido. Então que a história começe, seja ela coerente ou não...

Colombina amava o Pierrot que era Arlequim e desejava o Arlequim que era Pierrot. Um a completava em coração e o outro em paixão. Mas não é assim, senhoras e senhores, que a hístória começa; e se ela estivesse vos contando essa história, por mais imaginativa que fosse, não é tão inclinada aos recursos literários que começam pelo fim e terminam no ínicio, perdendo o meio pelo caminho. Portanto, meus caros, se ela pudesse interferir nesta narração - e pode, posto que é nela que concentra nossa atenção- começa-la-ia por algumas pequenas apresentações necessárias. Como é de direito, então, que assim façamos. Recomecemos...

Comecemos com a origem do mal de todo homem, desde que o mundo é mundo e Adão- também homem e de mente nem tão forte - se perdeu, levando com sigo todos de sua espécie. Falemos primeiramente daquela que é capaz de realizar os mais profundos de seus desejos apenas com palavras, a mulher...
Colombina era angelical - e permitam-me que descreva-a aqui com minha visão pessoal, visto que sou narrador e também personagem -, seu corpo endeusado; sua mente perspicaz e astuta, com seu cinismo meigo... Pierrot era o amigo tristonho porém fiel, que estava sempre ali pronto a ajuda-la; Arlequim o trovador galante, aquele que a fazia rir e que a seduzia com suas canções alegres de ninar. Pierrot a amava em segredo porém ela sabia, e Arlequim encantado e sedutor, era quem a envolvia.

Como era de se esperar - posto que nas histórias de romance o ser tristonho raramente é o escolhido - , Colombina entregavasse a Arlequim. Mas até nos casais mais felizes, brigas nunca deixam de acontecer, seja o romance qual for. E quando ela brigava com seu amante era ao seu amigo quem ela recorria. Até que chegou o dia em que apaixonou-se também, pelo tão seu Pierrot.

E é neste ponto, senhoras e senhores, que começa a queda de nossa Heroína - que discorda veementemente dos termos "heroina" e "queda", posto que heroina é quem realiza grandes feitos, e queda é para aqueles que agem de forma impensada. Nós mais uma vez lhe damos crédito, pois não há história de amor que funcione sem que pelo menos um coração se fira.

O amor de Pierrot a Colombina durou pouco. Mentira, o amor perdura. Mas foi guardado, e escondido. O amor de Colombina a Arlequim se desgastava um pouco mais a cada briga. Colombina se apegava cada vez mais a Pierrot, e se afastava de Arlequim. Mas esse impasse não duraria para sempre, então ela teve que escolher, a escolha é inevitável até em contos de fadas. Não seria, portanto, diferente em nossa história. Foi assim, senhoras e senhores, que ela se ergueu, feito o boa heroina que não era – ou recusava-se a ser. Escolheu ao Pierrot, tornando-se amiga de Arlequim.

Contudo não podemos esquecer, que essa história não terá sentido algum se não vista as avessas. Não está em mim, me retirar sem que tudo seja explicado. E nenhum bom conto - apesar de sem sentido -seria válido que seu real significado não fosse entendido. Se é que já não me entenderam, prestem atenção no seguinte. Nosso doce e melancólico Pierrot ainda era o mesmo amigo e companheiro, mas não era a alma de Colombia e sim sua luxúria. E em suma o Arquelim ainda era o mesmo, porém não o corpo mas o coração.
Por isso dizer-lhes-ei novamente, Colombina amava o Pierrot que era Arlequim e desejava o Arlequim que era Pierrot. E neste ponto chegamos ao final, que era início e foi repetido lá pelo meio.

Minha doce Colombina ama a nós dois, talvez porque não ame bem ou suficiente a si mesma. E eu, Pierrot, -peço desculpas por não ter lhes dado minha graça antes- bom amigo que sou, renego ao amor de minha menina, pois as avessas quem a merece é o galante Arlequim. Não porque não a ame, como já disse o amor perdura, e o meu por ela perdurará... Dou esse conselho, pois nossa história ainda não está acabada, e eu romântico e tolo como sou, ainda a amo mais que a mim mesmo. O amor dela a Arlequim é o mais saudável, e sendo eu além de amante, amigo. Sei que esté é o que deve durar...
Com este fim de história meio louca, faço minha mesura.
Tendo em mente, que essas palavras são as minhas últimas, dou-lhes apenas mais uma explicação;
Só abro mão do amor de Colombina, por que sei que eu apesar de apaixonado, sou apenas o seu pecado....

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